quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O Pereira

Um dia saí do trabalho, cansado, estressado. Chovia, e corri pro ponto de ônibus. Minha cabeça estava a mil, pensando em como resolver diversos problemas, e nem reparei quando um homem vestido de preto dos pés à cabeça sentou ao meu lado. Ele limpou os respingos de chuva dos óculos redondos e tipicamente começou a puxar papo, coisa da nossa gente mesmo. Pouco tempo depois começou a me contar que acabara de chegar de um velório, de um tal de Pereira.

Ele me contou que o Pereira trabalhava numa repartição pública, e era o típico sujeito que passa pela gente quase como um fantasma numa cidade grande. Andava sempre de camisa social, calças bem passadas, óculos de aro grosso e cabelos meticulosamente bem-cortados e penteados. Carregava sempre uma maleta também. O Pereira era o típico cara “bonzinho”. Aceitava (constantes) brincadeiras de todos os colegas e poucos amigos que possuía. Estava sempre calmo, era meio caladão. Solitário, a última vez em que havia namorado – isso já tinha uns dois anos – acabou sendo traído e largado. Aceitava tudo, calado.

No escritório, o Pereira era pau pra toda obra. Viviam lhe chamando para ajudar colegas com problemas em seus computadores, o que atrasava seu serviço e fazia com que saísse tarde quase todos os dias. Mas o Pereira era gente boa, e ajudava todo mundo. Quando participava do happy hour com os amigos, o Pereira sempre cobria a parte daquele colega que tinha levado pouco dinheiro, mesmo quando não lhe pediam. Grande colega o Pereira. Entretanto, quando não estava por perto, as pessoas falavam do Pereira. Comentavam do seu jeito calado, estranho, quase anti-social. O Pereira sabia disso, mas parecia não se importar muito. No máximo, olhava sério para algumas colegas quando elas exageravam nas risadinhas.

Numa terça-feira, o Pereira chegou um pouco atrasado na repartição. Coisa incomum, se tratando dele. Carregava uma maleta notavelmente maior que o normal. Alguns colegas o zoaram por causa da camisa xadrez que usava, e nem repararam que o Pereira não havia dado sua típica risadinha seca, típica de quando ele era alvo de uma piada. Às onze e quarenta, perto do horário do almoço, o Pereira levantou, sacou da maleta uma calibre doze e abriu fogo. Dois mortos e quatro feridos. Por fim, enfiou o cano da arma na boca e puxou o gatilho.

Eu ouvia, já perplexo, a narrativa do homem. O ônibus dele chegou, ele se despediu de mim e partiu. O ônibus dele não era o mesmo que o meu.

3 comentários:

Saikyo disse...

omg...

Anônimo disse...

Ah! Após ler todos os posts eu finlamente consegui me lembrar de comentar...mas...que m*...não entendi o final da história...¬¬

Anônimo disse...

Sugoi!
Parabens!