terça-feira, 21 de julho de 2009

O enterrado vivo


É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

Poema de Carlos Drummond de Andrade. Deixo para que sua voz diga o que eu não consigo exteriorizar.

Um comentário:

Laila disse...

Drummond decididamente não era deste mundo.
A anáfora é a minha figura de linguagem preferida, e ele sabe usá-la como ninguém. Cada repetição do "sempre" vem mais carregada de significado, de sentido, de sentimento.
É sempre bom se deparar com um poema novo de um autor já tão conhecido.